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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Uma vida sem violência, é um direito de todas as mulheres



A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria”

(Marcha Mundial de Mulheres)

Em Abril de 2010 tive a graça de ser selecionada para ocupar uma vaga para Educadora Social no Centro de Referência da Mulher Francisca Clotilde, um dos equipamentos da Prefeitura Municipal de Fortaleza ligado à Coordenadoria da Mulher, como uma das Políticas Públicas de enfrentamento e prevenção à violência doméstica e familiar contra as mulheres.

Somos uma equipe multiprofissional composta por duas Psicólogas, duas Advogadas, uma Assistente Social e duas Educadoras Sociais e fazemos o atendimento a essas mulheres em situação de violência doméstica e sexual e, conforme suas demandas fazemos os encaminhamentos para os serviços de atendimentos jurídicos, sociais, psicológicos e de saúde para as instituições que compõem a rede de serviço. Nosso propósito é lhes oferecer suporte para que consigam romper o ciclo de violência.

Além do trabalho interno, fazemos também o trabalho educativo facilitando oficinas temáticas organizando e ou fortalecendo os grupos de mulheres nas comunidades.

Confesso que este é mais um dos desafios entre tantos que tenho enfrentado, exigindo de mim um exercício muito grande de equilíbrio para saber lidar com as mais diversas situações de dores do corpo e da alma trazidas pelas mulheres. São corpos mutilados, rostos desfigurados, olhos sem brilho, almas feridas, sonhos desfeitos. È impressionante como um ser humano pode ter a capacidade de fazer tanta maldade com o seu semelhante.

Depoimentos como os que seguem, podem expressar um pouco das histórias de horror que marcam nosso cotidiano: “Durante os 20 anos que passei casada com ele foi só briga, agressão e desrespeito. Ele não me deixava trabalhar e tudo o que eu queria ele me dava, só não me dava o principal que é a paz de espírito”.

“Eu antes tinha vergonha de denunciar, hoje eu tenho medo”.

“Eu agüentei esse tempo todo de sofrimento por causa de meus filhos, eu não tenho como sustentar eles, mas agora não dá mais”.

“Ele cuspiu na minha cara, o que me doeu mais do que as pancadas que ele já me deu”.

“Eu já apanhei todo tipo de surra: de cinto chegando a ficarem as marcas da fivela no meu corpo, de cabo de vassoura e até de chinelo na boca. Um dia ele me torturou tanto à noite me deixando com o lho roxo e no outro dia exigiu que eu fosse a uma loja com ele para ele comprar roupas para mim. Ele era assim, me espancava de noite e me cobria de mimos no outro dia. Eu achava que ele era a minha única possibilidade, mas hoje eu quero me encontrar, me descobrir como mulher, saber realmente quem sou”.

“Ele é um monstro, um psicopata, diz que vai passar o carro por cima de mim e que tem coragem de fazer isso por que por amor se mata e se morre”.

“Ele passava a noite falando baixinho no meu ouvido: eu vou te matar, tu merece morrer”.

Tudo isto me causa muita dor e indignação e costumo perguntar: até quando vamos conviver com cenas de horror causadas por homens que se sentem no direito de humilhar, bater e matar mulheres só pelo simples fato de terem nascido macho? Fica também uma certeza: Não basta apenas se indignar, é preciso arregaçar as mangas e lutar para combater esta cultura de opressão de gênero que vem ferindo a dignidade de tantas companheiras, causando-lhes transtornos físicos e mentais, maltratando e podando a infância de tantas crianças, destruindo a alegria de tantas mães, ceifando vidas inocentes. E, até que haja uma única mulher no mundo sendo espancada ou morta, não temos o direito de nos acomodar.

Ir. Rosa Ilma Lobato, Fortaleza-CE

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