Quais as conseqüências na vida de uma criança ou adolescente vítima do abuso sexual?
Ir. Marinete Ferreira dos Santos
Esta se constitui a questão central da monografia que apresentei ao concluir o ano de especialização do curso de Psicologia, no Centro Universitário de João Pessoa – UNIPE a qual se desenvolveu em base à pesquisa bibliográfica e de campo.
O abuso sexual de crianças e adolescente vem sendo, internacionalmente reconhecido pela maioria dos autores como um problema de saúde pública, de educação e de justiça, presente em todas as camadas da sociedade.
No Brasil, o abuso sexual, também se apresenta como grande vulnerabilidade sócio- econômica, política e cultural, desde a família da vítima, estendendo-se às instituições encarregadas de zelar pelos direitos da criança e do adolescente, pois ainda não se viabilizam as necessárias políticas públicas já garantidas pela legislação federal.
No conjunto dos fatores que sustentam essa grande vulnerabilidade, destacam-se: a “lei” do silêncio domiciliar que impede a legitimação das denúncias junto aos órgãos competentes, a morosidade da justiça para os julgamentos e a impunidade da maioria dos abusadores.
Neste contexto, quantas crianças e adolescentes num silencioso clamor vivenciam profundos sentimentos que ferem a sua dignidade, cujas conseqüências poderão perdurar ao longo da sua vida!
Em base à pesquisa bibliográfica, considera-se que as conseqüências do abuso sexual são inúmeras na vida de uma criança ou adolescente, manifestando-se em impactos biológicos, psicológicos e sociais. Alguns podem perdurar ao longo da vida como se constatou na pesquisa de campo, junto a três mulheres abusadas sexualmente, quando crianças ou adolescentes.
Na fala das entrevistadas, constata-se que a história de vida de cada uma, na sua infância e adolescência foi marcada por sentimentos e impactos de ignorância, silêncio, dor, medo, ódio, dependência, engano, ameaça e conflito. Em conseqüência, hoje, elas vivenciam situações de sofrimento, culpa e revolta.
Considera-se que esta pequena amostra da pesquisa de campo revela uma gama tão expressiva e indelével de sentimentos, cujas conseqüências - o sofrimento, a culpa e a revolta continuam inerentes no cotidiano dessas três mulheres. Então, que proporções teria o registro da história de vida das milhares e milhões de vítimas do abuso sexual, cuja ocorrência continua silenciada?...
Neste cenário, cujos personagens estão por trás do palco, como poderia se projetar outra sociedade possível - sem vítimas do abuso sexual?
Em base a este questionamento, constata-se que as mulheres já mencionadas, apesar de guardarem sentimentos e conseqüências do abuso sexual, que ferem a sua dignidade, hoje são portadoras de um dinamismo pessoal positivo, que na sua fala transparece em posturas de posicionamento, auto-afirmação e reconstrução da própria história.
Para essas mulheres decidirem romper com a submissão opressora do agressor, construir uma nova relação familiar digna, buscar apoio psicológico junto a pessoas em espaços diversos e inserir-se na comunidade local são fatores muito significativos, os quais confirmam que a desconstrução do trauma do abuso sexual é possível.
E como seria possível desconstruir a prática do abuso sexual em nosso país, diante da complexidade institucional já constatada – “a lei” do silêncio domiciliar? A morosidade da justiça para os julgamentos? A impunidade da grande maioria dos abusadores? A apartação entre as leis promulgadas e a viabilização das mesmas em políticas sociais de atendimento?
Sem dúvida, um processo educativo articulado entre todas as instituições encarregadas de zelar pela proteção integral da criança e adolescente é uma alternativa muito promissora para a construção de outra sociedade possível - sem o crime do abuso sexual. Para tanto, se faz necessário que esse processo educativo se desenvolva em programas eficazes, junto ao respectivo público, extensivo à população em geral, através dos mais diversos meios.
Como proposta de reintegração bio-psico-social de pessoas que sofrem, em conseqüência do abuso sexual ocorrido, quando crianças ou adolescentes, destaca-se como alternativa de grande eficácia, a Abordagem Centrada na Pessoa - ACP, preconizada por Carl Rogers.
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